O Rio de Janeiro é o espelho do Brasil. O que ocorre no Rio de Janeiro fatalmente se transmitirá em cadeia para os outros Estados da Federação. As questões de justiça criminal e ordem pública não fogem desta regra. Portanto, é estratégico manter a atenção, estudar o cenário, analisar as experiências e observar as políticas lá realizadas, ajudando no alcance dos objetivos. A solução desta guerra envolve leis duras e um Sistema de Justiça Criminal integrado, ágil, coativo e comprometido em garantir o direito da população à segurança pública.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

BALA PERDIDA EM TIROTEIO MATA MENINA DE 10 ANOS

FOLHA.COM. 05/07/2012 - 16h34

Menina é vítima de bala perdida em tiroteio entre ladrões e PMs


 
ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO

Um tiroteio entre três ladrões de carro e dois policiais militares terminou com uma menina, de dez anos, vítima de bala perdida na noite de quarta-feira (4), no Jabaquara (zona sul de São Paulo).

A garota brincava no quintal da casa de um amigo de seu pai, na rua Magdeburgo, quando um Corsa que havia acabado de ser roubado de uma analista foi encurralado por dois PMs do 3ë Batalhão.

Ao perceber que não tinham mais como escapar do cerco dos policiais, os três ladrões começaram a atirar contra os policiais militares, segundo o que eles narraram à Polícia Civil e à Corregedoria da PM.
Os PMs também disparam, mas nenhum dos ladrões foi ferido. Os três criminosos fugiram a pé e o Corsa foi recuperado.

Logo após o fim do tiroteio, os moradores da rua Magdeburgo começaram a suspeitar que a bala que atingiu a menina no abdome partiu da arma de um dos dois policiais militares. Uma pistola.40 do soldado Eric de Almeida foi apreendida pela Polícia Civil para perícia. O soldado não foi localizado pela reportagem até o momento.

A menina está internada no Hospital Municipal Arthur Ribeiro de Saboya, onde foi operada. Seu estado é considerado grave.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

CRACOLÂNDIA E ARRASTÕES NA LAPA

Além de roubos, frequentadores da Lapa convivem com tráfico e uso de drogas a céu aberto . Semana passada, o grupo teatral Tá na Rua, do ator Amir Haddad, teve sua sede na Mem de Sá invadida e seu equipamento de som roubado

Thiago Jansen
O GLOBO 3/07/12 - 22h45



Movimento intenso numa rua da Lapa no fim de semana: a venda e o consumo de drogas acontecem a céu aberto, sem repressão da PM ou da Guarda Municipal Pedro Kirilos / O Globo


RIO - Eram cerca de 22h30m da última sexta-feira quando aproximadamente dez mil pessoas se reuniam na Praça Cardeal Câmara, em frente aos Arcos da Lapa, para acompanhar o show gratuito da cantora Daniela Mercury, seguido de um espetáculo de projeções sobre o símbolo maior da região. Próximo dali, jovens de diversas idades começavam a lotar a Travessa do Mosqueira, uma entre as tantas ruas do local com depósitos de bebida e bares. “Vai pó, vai maconha?”, perguntou um garoto, menor de idade, sem qualquer inibição, quando o repórter do GLOBO chegou à esquina da Rua Joaquim Silva, a um quarteirão de distância dos policiais militares e dos guardas municipais que patrulhavam a Avenida Mem de Sá.

A situação, corriqueira, de acordo com testemunhas, ilustra o atual estado da Lapa, berço da boemia e da malandragem cariocas, local de grande circulação de turistas e onde assaltos, venda e consumo de drogas ainda são frequentes, apesar do policiamento e das obras de revitalização na região, transformada oficialmente em bairro há quase dois meses.

Arrastões são outra preocupação

Semana passada, como noticiou a coluna de Ancelmo Gois no GLOBO, o grupo teatral Tá na Rua, do ator Amir Haddad, teve sua sede na Mem de Sá invadida e seu equipamento de som roubado. Foi a segunda vez em menos de dois meses — a aparelhagem tinha sido doada pela atriz Fernanda Montenegro, sensibilizada pelo primeiro roubo, em maio. “Esses dois assaltos nos deixaram estarrecidos, nos jogaram na realidade. Lamentamos viver assim”, disse Haddad, pouco depois do segundo caso, traduzindo a insatisfação de muitos que se estabeleceram na região.

— A segurança no bairro não tem melhorado em nada. Apesar de a Mem de Sá agora estar sendo fechada à noite durante os fins de semana, muitos pivetes se misturam às pessoas e praticam assaltos. Arrastões também são frequentes. Durante o dia, é comum ver turistas sendo roubados — afirma Patrícia Santos, gerente da Pizzaria Guanabara da região.

De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), a 5ª DP (Gomes Freire), delegacia da região, registrou 140 roubos e 479 furtos em maio deste ano. Em abril, os números foram semelhantes: 131 e 466, respectivamente. Se comparados com os dados do ano passado, não há grandes mudanças nos índices: 149 roubos e 427 furtos em maio, contra 187 e 512 em abril. No entanto, o número de casos pode ser ainda maior, já que muitos ainda preferem não registrar ocorrência por acharem “natural” a situação.

— A Lapa tem um problema que é a naturalização da violência. Ou seja, boa parte das pessoas que são assaltadas não presta queixa e aquelas que assaltam não se intimidam — afirma o gerente de um bar próximo aos Arcos que preferiu não ser identificado. — A Lapa está longe de ser uma área segura. Já tive clientes assaltados após sair daqui e, num caso mais grave, uma menina foi estuprada, em outubro do ano passado.

Donos de estabelecimentos comerciais da área dizem acreditar que a situação do quarteirão da Rua Joaquim Silva é uma das mais problemáticas da região. De acordo com uma das sócias da casa de shows Semente, que também preferiu não se identificar, a atual estrutura de policiamento só chega a determinadas áreas do bairro:

— Todo esse quarteirão da Joaquim Silva, subindo a ladeirazinha, é terra de ninguém. Tem um povo muito estranho por aqui, um lugar que é ponto turístico, subida para Santa Teresa e que leva à escadaria da Lapa. Existe um comércio de drogas 24 horas por aqui. Às vezes, às 15h vem gente oferecer cocaína se você estiver passando. Já fui assaltada na esquina do Semente e, há uns três sábados, houve dois arrastões aqui em frente.

Responsável pela Fundição Progresso, Perfeito Fortuna afirma que o lado oposto ao da Ladeira Santa Teresa também anda perigoso, já que, com o fechamento do tráfego por ali, próximo à Praça Monsenhor Francisco Pinto, muitos moradores de rua e assaltantes estão vivendo na área, debaixo dos Arcos.

— Na passagem dos Arcos dos Lapa, o policiamento está ótimo, mas o pequeno morro próximo à Avenida Chile está sendo feito de moradia por muitos assaltantes. Está bastante perigoso — afirma Perfeito.

Na noite da última sexta-feira, um grupo com cerca de 30 menores moradores de rua estava no início da Ladeira Santa Teresa, embaixo dos Arcos, a menos de 500 metros de uma patrulha da Guarda Municipal, de um posto da Secretaria da Ordem Pública e de alguns veículos da Secretaria de Assistência Social. Ao virar a esquina da ladeira com a Joaquim Silva, era possível encontrar menores consumindo drogas e bebidas alcoólicas a céu aberto. Na escadaria da Lapa, o consumo de drogas era ainda maior. Não havia policiamento fixo na área e, ainda que uma patrulha da PM tenha passado ao menos uma vez pelo local, nenhuma ação foi tomada para coibir o tráfico.

Mesmo na Mem de Sá, onde o policiamento era ostensivo, assaltos ocorriam, como o que sofreu Euclydes Magalhães, de 25 anos. Frequentador assíduo da região nos fins de semana, ele estava com um grupo de amigos embaixo dos Arcos, por volta das 23h30m de sexta-feira, quando teve o cordão puxado de seu pescoço por dois jovens, que fugiram. Meia hora depois, quando estava mostrando o local do roubo a um amigo, presenciou uma tentativa de assalto e, junto com outras pessoas, conseguiu imobilizar o ladrão e levá-lo até PMs.

— A região está mais complicada de uns tempos para cá, porque os ladrões, que antes se concentravam em locais específicos, agora ficam espalhados pela região — afirmou Euclydes. — Agora só volto na Lapa daqui a um mês, porque acho que posso ter ficado marcado pelos meus assaltantes.

A Polícia Civil informou que sabe da venda e do consumo de drogas na área, acrescentando que tem feito operações para reprimir o tráfico. A PM, por sua vez, disse que atua na região com quatro viaturas de dia e 12 à noite, além do policiamento montado e de 20 policiais no patrulhamento a pé — nos fins de semana, ele é reforçado. Após saber, pela equipe de reportagem, da venda de drogas na Joaquim Silva, a corporação disse que passará a deixar uma patrulha na rua.

A Secretaria municipal de Assistência Social admitiu que há uma concentração de adultos e menores de rua na Lapa que fazem uso de drogas. O órgão informou que equipes atuam diariamente na abordagem dessa população, mas que muitas pessoas levadas aos centros de tratamento os deixam por causa do vício em álcool ou drogas.