O Rio de Janeiro é o espelho do Brasil. O que ocorre no Rio de Janeiro fatalmente se transmitirá em cadeia para os outros Estados da Federação. As questões de justiça criminal e ordem pública não fogem desta regra. Portanto, é estratégico manter a atenção, estudar o cenário, analisar as experiências e observar as políticas lá realizadas, ajudando no alcance dos objetivos. A solução desta guerra envolve leis duras e um Sistema de Justiça Criminal integrado, ágil, coativo e comprometido em garantir o direito da população à segurança pública.

sábado, 23 de setembro de 2017

A GUERRA NA ROCINHA. FORÇAS ARMADAS CERCAM FAVELA



ZERO HORA 23 de Setembro de 2017


SEGURANÇA. Forças Armadas ocupam a Rocinha


REFORÇO DE 950 HOMENS das tropas federais está no Rio para auxiliar a Polícia Militar no cerco à guerra entre traficantes



Intensos tiroteios entre policiais e criminosos na Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, provocaram tumulto, pânico e alteraram a rotina de cariocas na sexta-feira. Compromissos desmarcados, aulas canceladas e medo de trafegar por locais próximos à favela são alguns dos reflexos da crise de segurança vivida na capital fluminense.

O presidente Michel Temer autorizou o envio de 950 homens das Forças Armadas, a pedido do governo do Rio. Por volta das 15h30min de sexta-feira, as tropas federais começaram a ocupar a favela, que teve o espaço áereo cercado pela Aeronáutica.

- Foi autorizada operação das Forças Armadas para que seja feito cerco na Rocinha, liberando o policiamento para que ele possa subir e continue com o enfrentamento com os criminosos - disse o ministro da Defesa, Raul Jungmann.

Também fazem parte do reforço 14 veículos blindados das Forças Armadas, dos quais 10 se deslocaram para a Rocinha. Em princípio, a ideia é de que os veículos não subam o morro, mas isso pode ocorrer se a polícia precisar de proteção blindada.

Conforme o ministro, há um contingente de 10 mil homens disponíveis no Rio, que poderão ser acionados caso o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) faça nova solicitação. Jungmann reconheceu que o problema no Estado é estrutural, mas ponderou que, neste momento, é necessário combater o quadro considerado urgente:

- Há um doente com fraturas múltiplas e hemorragia interna. E ele tem também cirrose. Do que vamos cuidar primeiro? A cirrose é estrutural e a hemorragia é a urgência. Estamos trabalhando, evidentemente, sobre a urgência.

AULAS CANCELADAS E PÂNICO NAS RUAS

Apesar do clima tenso com a chegada dos militares, não houve registros de tiroteios na parte baixa da favela. Os homens se posicionaram nos acessos à Rocinha. Dentro da comunidade, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar (PM) realizou incursões em busca de criminosos envolvidos na guerra entre facções, que se ampliou desde o último domingo (leia ao lado).

Na sexta-feira, o Bope entrou na favela às 5h e logo a troca de tiros com traficantes se iniciou. Por volta das 8h, um grupo de menores ateou fogo a um ônibus na Avenida Niemeyer, em São Conrado.

- Quando cheguei embaixo da passarela da Rocinha, vi muitos policiais, cerca de 20, saindo do túnel com fuzis, prontos para invadir. De repente, começou um tiroteio violento no asfalto. Acho que fui um dos últimos carros a passar pelo túnel, que foi fechado depois. Nem sei como consegui, minhas pernas tremiam - disse o empresário Ricardo Tupinambá, 54 anos, que mora na Barra da Tijuca.

Ao menos 25 linhas de ônibus que passam pela região tiveram de mudar de rota. O acirramento da tensão na Rocinha fez colégios do Rio cancelaram atividades - quase 5 mil alunos ficaram sem aulas. Um dia antes, a Escola Americana já havia enviado comunicado aos pais informando que o campus da Gávea, vizinho à favela, seria fechado. A instituição afirma que tem feito o que pode para manter a escola aberta para evitar transtornos ao aprendizado, mas que decidiu não abrir para garantir a proteção dos estudantes.

O Colégio Teresiano, também em região próxima à Rocinha, cancelou as atividades ao ar livre como medida preventiva para "a segurança de alunos, professores e funcionários". A Escola Parque decidiu suspender as aulas, segundo comunicado, após contato com a PM.

RELATOS DE TROCAS DE TIRO EM OUTRAS COMUNIDADES

Após o registro de conflito no Morro Dona Marta, em Botafogo, a Escola Britânica do Rio também enviou aviso aos pais informando sobre a proibição para circulação em áreas externas e a suspensão de atividades extracurriculares que normalmente ocorrem à tarde.

A empresária Laura Mariani, 54 anos, mora no Humaitá, perto do Dona Marta, e se preparava para sair de casa, por volta das 10h, quando começou a ouvir tiros:

- Durou 20 minutos. Resolvi não sair. Amigos que moram no bairro me falaram que ficaram presos em casa aguardando uma trégua.

Ainda houve relatos de tiroteios nas comunidades de Chapéu Mangueira, na Zona Sul, e no Complexo do Alemão, na Zona Norte.



Por trás da guerra, Nem, "primeira-dama" e ex-guarda-costas


Um traficante preso em penitenciária de segurança máxima, sua namorada e seu ex-guarda-costas estão por trás do conflito na favela da Rocinha, que ganhou contornos de guerra na sexta-feira. Segundo uma das linhas de investigação da polícia, o confronto na comunidade foi ordenado por Antônio Francisco Bonfim Lopes, conhecido como Nem, de dentro de uma penitenciária federal.

Preso desde 2011, Nem mantinha o comando do tráfico na região com o auxílio de seu braço direito, Ítalo Jesus Campos, o Perninha, encontrado morto em agosto. Conforme a Polícia Civil, a execução foi ordenada por Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, ex-guarda-costas de Nem. Ele receava que Perninha, a mando do Nem, tomasse a favela.

O conflito estaria relacionado a um racha entre a mulher de Nem, Danúbia Rangel, sua "herdeira", e Rogério 157. Haveria disputa por protagonismo entre ambos, a partir da busca de maior influência pela "primeira-dama". Especula-se que Danúbia tenha sido expulsa da Rocinha a mando de Rogério. Os dois estão foragidos.

No último domingo, o conflito acentuou-se depois que dezenas de traficantes de outras regiões, como São Carlos e Vila Vintém, controladas pela quadrilha conhecida como Amigos dos Amigos (ADA), invadiram a Rocinha. Os criminosos teriam agido a pedido de Nem para reaver o controle do complexo das mãos de Rogério - uma disputa interna na favela por integrantes da mesma facção.

A gota d?água para a invasão da comunidade pelo ADA teria sido a expulsão de parentes de Nem por traficantes ligados a Rogério. Acuado, o bando do ex-guarda-costa teria começado a se desmantelar. Integrantes estariam deixando a Rocinha, com medo de serem mortos ou presos, e fugindo para outras áreas. De acordo com a polícia, na sexta-feira, Rogério continuava escondido na mata atrás do complexo.

 
CAROLINA BAHIA, RBS BRASÍLIA


A FALÊNCIA DO RIO


A necessidade de reforço na segurança do Rio, com homens das Forças Armadas, é a prova da absoluta falência do Estado. Ações aplaudidas no passado, como as UPPs, se desmancharam por falta de continuidade, gestão e recursos para as comunidades. O Rio foi saqueado por uma gangue de políticos. O dinheiro que alimentou a corrupção desapareceu das políticas públicas. E, como em outras regiões do país, o controle do sistema prisional foi negligenciado. O caldeirão transbordou.