O Rio de Janeiro é o espelho do Brasil. O que ocorre no Rio de Janeiro fatalmente se transmitirá em cadeia para os outros Estados da Federação. As questões de justiça criminal e ordem pública não fogem desta regra. Portanto, é estratégico manter a atenção, estudar o cenário, analisar as experiências e observar as políticas lá realizadas, ajudando no alcance dos objetivos. A solução desta guerra envolve leis duras e um Sistema de Justiça Criminal integrado, ágil, coativo e comprometido em garantir o direito da população à segurança pública.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

TRÁFICO RETOMA ÁREA EM FAVELA COM UPP

EXTRA/GLOBO 10/11/13 11:07

Tráfico retoma pela primeira vez área em favela com UPP em comunidade de Copacabana


A comunidade do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana Foto: Custódio Coimbra


Carolina Heringer, Herculano Barreto Filho, Paolla Serra e Rafael Soares


Traficantes retomaram, pela primeira vez, uma área dentro de uma favela pacificada desde 2009. Há duas semanas, policiais da UPP do Pavão-Pavãozinho, na Zona Sul, tentaram entrar na quinta e última estação do plano inclinado. Não conseguiram. Foram surpreendidos por oito homens com fuzis. Após 40 minutos de tiroteio, Thomas Rodrigues Martins, de 32 anos, apontado como traficante pela polícia, acabou morto. Ali é a fronteira entre o território dominado pelo Estado e a localidade conhecida como Vietnã. Segundo seis policiais ouvidos pelo EXTRA, com média de cinco anos na corporação e passagens por outras favelas pacificadas, a área — que equivale a 6% do terreno — voltou às mãos do tráfico. “O morro é deles”, reconheceu um policial, exagerando o poderio dos bandidos.

Por outro lado, o EXTRA constatou que 94% da favela contam com patrulhamento da PM. A Ladeira Saint Roman, que já foi conhecida como uma das maiores bocas de fumo da favela, tem viaturas em todos os seus acessos. Se há policiamento na parte baixa da comunidade, a equipe de reportagem foi orientada a retornar por um adolescente quando chegou à terceira estação do plano inclinado, por volta das 15h da última quarta-feira. O coronel Frederico Caldas, comandante das UPPs, diz desconhecer que haja um território dominado por criminosos na área.

Em seis dias, o EXTRA percorreu 14 comunidades pacificadas em todas as regiões da cidade, ouvindo 85 histórias contadas por policiais militares e 50 moradores. Nessas favelas, há outras 37 áreas mapeadas com histórico de confrontos com moradores ou policiais feridos e mortos neste ano. Se no Vietnã não há tiroteios entre policiais e bandidos porque os PMs nem chegam lá, nas demais áreas conflagradas a polícia ainda tenta evitar que criminosos delimitem seu território.

No Parque Proletário e Vila Cruzeiro, na Penha, há pelo menos três semanas bandidos estão, segundo PMs e moradores, tentando tomar de volta parte do território perdido com a pacificação. Há dez dias, houve dois confrontos num intervalo de 48 horas. No primeiro tiroteio, no dia 31 de outubro, policiais disseram ter sido surpreendidos por mais de 15 homens armados com fuzis na localidade da Vacaria, no Parque Proletário. Dois PMs ficaram feridos e um traficante morreu. Com ele, os policiais apreenderam um fuzil AK-47.

Dois dias depois, um policial morreu ao ser baleado num ataque organizado pelo tráfico na mesma área. De acordo com o relato dado por 20 PMs que atuam na região, não foi um caso isolado.

— Eles dão tiro de fuzil direto. A última coisa que isso aqui está é pacificado — disse um policial.

Na Macega, na Rocinha, a situação é semelhante. Segundo policiais, dia e noite, pelo menos dois traficantes com fuzis fazem a segurança da localidade, uma das maiores bocas de fumo da favela.

No Morro do São Carlos, os policiais dizem se sentir vigiados. Próximo a um contêiner da UPP, três jovens observavam os PMs.

— Meu irmão ganha R$ 150 para avisar quando os policiais estão por perto — admitiu uma moradora.

Localidade da Vacaria, onde policiais trocaram tiros com traficantes no Parque Proletário Foto: Herculano Barreto Filho



‘Vai embora, volta direto, não para’

Tarde da última quinta-feira. Encostados num barraco na região do Caratê, na Cidade de Deus, 15 homens conversam tranquilamente. Basta uma viatura da UPP chegar ao beco para o grupo sair correndo. A região mais humilde da favela é também a mais problemática: o tráfico se concentra ali, segundo os relatos de policiais e moradores.

Do outro da favela, nos Apartamentos, porém, há apenas pontos isolados de venda de drogas. Na Rua 1, quatro homens portavam radiotransmissor. Lá, frases de ódio aos militares estão pichadas num muro. Uma motorista de van orienta a equipe do EXTRA: “Vai embora, volta direto, não para para ninguém.”

Nas favelas de Manguinhos e Jacarezinho, os PMs dizem evitar pelo menos duas áreas: Coreia e Vasco Talibã. Nesses locais, contam, os criminosos circulam livremente e, a qualquer abordagem, moradores revidam, chegando a jogar garrafas nos policiais e viaturas.

No Morro dos Macacos, os policiais garantem que circulam por toda a favela. O risco maior é o ataque de traficantes na localidade da Rachadura.

— Não trocamos tiros. Recebemos — lamenta um soldado da UPP.

No vizinho São João, o Sampaio é apontado pela tropa como a pior área.

— Não é que a gente não possa entrar, mas não somos bem-vindos — ironiza o PM.

coronel Frederico Caldas, coordenador-geral das UPPs Foto: Bruno Gonzalez



‘Esses problemas são pontuais’

Entrevista com o coronel Frederico Caldas, coordenador-geral das UPPs

A política de proximidade fica comprometida com os últimos confrontos?

Isso é uma exceção. Não dá para generalizar e dizer que o processo de pacificação está sendo colocado à prova porque a gente está tendo problema no Alemão, Penha e Rocinha. Esses problemas são pontuais. Na maioria das UPPs, não temos um histórico de enfrentamento.

Os moradores do Parque Proletário contam que a UPP não foi mais à localidade da Vacaria após a morte de um policial. A pacificação está perdendo território lá?

A área passou a ser patrulhada pelo Bope. O policial foi morto porque ali havia policiais da UPP. Quanto maior a resistência (dos traficantes), maior a força (da ação policial). É o que está acontecendo na Vacaria, com a presença do Bope.

Há relatos de policiais dizendo que o fuzil engasgou nos confrontos no Parque Proletário.

Perguntei isso numa reunião com os comandantes das UPPs, na segunda-feira. Não temos qualquer relato assim. Mesmo assim, determinei que fosse feita vistoria nos fuzis.

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