O Rio de Janeiro é o espelho do Brasil. O que ocorre no Rio de Janeiro fatalmente se transmitirá em cadeia para os outros Estados da Federação. As questões de justiça criminal e ordem pública não fogem desta regra. Portanto, é estratégico manter a atenção, estudar o cenário, analisar as experiências e observar as políticas lá realizadas, ajudando no alcance dos objetivos. A solução desta guerra envolve leis duras e um Sistema de Justiça Criminal integrado, ágil, coativo e comprometido em garantir o direito da população à segurança pública.

terça-feira, 1 de abril de 2014

O DIA SEGUINTE



ZERO HORA 11 de abril de 2014 | N° 17750


TEXTO HUMBERTO TREZZI IMAGENS FERNANDO GOMES | RIO DE JANEIRO



OCUPAÇÃO NA MARÉ


O dia seguinte




Um dia após a ocupação do Complexo da Maré por tropas militares, as 16 favelas próximas ao aeroporto Tom Jobim (ex-Galeão) foram invadidas por um exército de garis. Eles passaram a segunda-feira fazendo capina, recolhendo detritos e entulhos e limpando bueiros e brinquedos nas praças.

A Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb) do município usou, para isso, 10 caminhões basculantes, três pás mecânicas e duas caçambas. O número de garis fixos na Maré tinha caído de 130 para 70, nos dias anteriores à ocupação, por temor de tiroteios.

A Maré produz diariamente 205 toneladas de resíduos, sendo 129 lixo domiciliar, 24 lixo das ruas e 52 toneladas de entulho. O poder público também instalou papeleiras para lixo em toda parte.

Em um outro front, o governo estadual se prepara para incrementar outras medidas de cidadania. A tática é tentar conquistar corações e mentes da comunidade, até agora dominada por traficantes. Os moradores receberão, gratuitamente, carteiras de identidade e de trabalho e poderão se cadastrar para legalizar a situação das contas de água, luz e telefonia, já que muitas são irregulares.

– Devemos implementar várias dessas medidas nos próximos 15 dias – anuncia o secretário estadual de Assistência Social, Pedro Fernandes.

Tropas fizeram vistoria beco a beco, viela por viela

A segunda-feira foi de consolidação militar do território ocupado pela PM e Polícia Civil domingo, no Complexo da Maré. Tropas do Batalhão de Operações Especiais (Bope), munidas de armamento pesado que incluía metralhadoras antiaéreas russas Mini-MI, fizeram uma vistoria beco por beco, viela por viela, atrás de traficantes. Estavam preparados para emboscadas – um informe interno da PM alertava para a possibilidade de represália dos bandidos pela perda de território – mas nenhum confronto ocorreu. Os “caveiras” do Bope encontraram dois carros roubados e depenados, mas não prenderam ninguém. Já na região da Maré controlada pela facção criminal Terceiro Comando Puro (TCP), policiais do Batalhão de Choque encontraram, com ajuda de cães, drogas, munição e rádios transmissores. O material estava escondido numa casa que outrora funcionou como creche.

A novidade maior foi a do “fogo amigo”. Um fato ocorrido ontem pode ajudar a explicar por que a ocupação da Maré se deu sem que os cabeças do tráfico fossem encontrados. É que seis policiais militares foram presos ontem, acusados de ligação com o bandido Marcelo dos Santos das Dores, o Menor P, um ex-paraquedista do Exército que chefiava o tráfico de drogas em 11 das 16 favelas do Complexo da Maré.

Os policiais atuavam na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, situada no outro lado da cidade, na Zona Oeste. Eles anteriormente tinham trabalhado na Zona Norte, na região da Maré. Conforme a Polícia Federal, que realizou as prisões, os PMs avisavam os traficantes sobre a iminência de operações policiais. Os seis PMs seriam também ligados ao traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, que chefiava o crime organizado na Rocinha e está preso. Nem e Menor P são de facções diferentes (o primeiro, da Amigos dos Amigos, o segundo do TCP), mas parecem receber cobertura do mesmo grupo de policiais. Ao todo, foram sete PMs e um agente penitenciário presos em dois dias, por relações com o tráfico.

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