O Rio de Janeiro é o espelho do Brasil. O que ocorre no Rio de Janeiro fatalmente se transmitirá em cadeia para os outros Estados da Federação. As questões de justiça criminal e ordem pública não fogem desta regra. Portanto, é estratégico manter a atenção, estudar o cenário, analisar as experiências e observar as políticas lá realizadas, ajudando no alcance dos objetivos. A solução desta guerra envolve leis duras e um Sistema de Justiça Criminal integrado, ágil, coativo e comprometido em garantir o direito da população à segurança pública.

sexta-feira, 2 de março de 2012

TRAUMA E PREJUÍZO ÀS VÍTIMAS DOS ATAQUES

Trauma e prejuízo das vítimas dos ataques. Pessoas que tiveram veículos destruídos em atentados não conseguem superar o medo - POR FRANCISCO EDSON ALVES, O Dia, 28/11/2010

Rio - O pesadelo da guerra que toma conta do Rio há uma semana faz cada vez mais vítimas diretas dos ataques criminosos. Apesar do patrulhamento reforçado, na madrugada de ontem mais quatro automóveis foram queimados em Nova Iguaçu. Desde o início dos conflitos, pelo menos 100 carros de passeio, ônibus, motos, vans e caminhões já foram incendiados e, até sexta-feira, eram cerca de 50 mortos na capital, Região Metropolitana, Baixada Fluminense e em cidades do interior. Humilhados pelas ações do tráfico, cidadãos de bem choram seus mortos e calculam prejuízos. Abalados e dominados pelo medo, não conseguem retomar a rotina.

A corretora de seguros Daniele Toledo, 36 anos, não dorme em paz e não sai mais de casa. No dia 22, na Tijuca, Zona Norte, por volta das 23h, ela viu seu Renault Clio, que usava para trabalhar, ser consumido pelas chamas na porta de casa, enquanto os dois motoqueiros que atearam fogo no veículo acompanhavam da esquina, de forma debochada, seu desespero. “Agora, acordo agitada e chorando a todo momento”, conta Daniele, que precisou se afastar do trabalho. Aterrorizada, a filha dela, K., 17, decidiu deixar o Rio. “Ela vai morar na casa de parentes, no interior”, lamenta.

O fabricante de velas José Augusto Rocha Costelha, 53 anos, é outro que sentiu sua dignidade ser reduzida a cinzas. O Fiat Uno 95, que usava para entregar as velas que fabrica, foi incinerado com outros dois veículos por cinco homens armados no Trevo das Margaridas, em Irajá, na manhã de segunda-feira. “Quem vai pagar meu prejuízo?”, revolta-se ele.

Naquele dia, no mesmo local e horário, o mecânico Wagner Villas Boas, 45 anos, que também viu seu Monza ser incendiado, quase morreu ao ser confundido com um PM. “A imagem do fuzil apontado para minha cabeça e os gritos de ‘atira, atira que ele é PM’ me tiram a paz a todo instante”, relembra.

A família de Rosângela Alves, 14 anos, morta com um tiro no peito na quarta-feira, durante confronto na Penha, não se conforma. Ela estava dentro de casa, quando foi atingida por bala perdida. Na quinta-feira, parentes e amigos mal conseguiram velar o corpo, enterrado sob forte tiroteio.

Para a socióloga Edna Del Pomo de Araújo, coordenadora do Departamento de Sociologia da UFF, o medo e a insegurança desencadeiam a sensação de pânico coletivo. “Havia a ilusão de que a simples instalação das UPPs resolveria os problemas de tráfico e violência no Rio”, explica.

Menino é baleado por se recusar a incendiar moto

Por ter se recusado a atear fogo em uma motocicleta, o menor M., de 10 anos, foi baleado por um traficante conhecido como André Luiz, no fim da noite de sexta-feira, no bairro do Jacaré. Na madrugada de ontem, quatro carros estacionados foram incendiados no bairro Botafogo, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Ontem à tarde, a polícia informou que o chefe do tráfico do Cantagalo, Paulo Cezar Figueiredo Cabral, 39 anos, conhecido como Bolão, que está preso em Bangu 3, seria um dos mandantes do incêndio em um carro na noite de sexta-feira, em Ipanema. Bolão teria dado as ordens ao gerente do tráfico do Cantagalo, Washington Marcelo da Cruz, o Marcelinho, 19, e seu comparsa, Bruno Francisco da Silva, o Carcaça, 21, que obrigaram menores a cometerem os ataques na Zona Sul do Rio.

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