O Rio de Janeiro é o espelho do Brasil. O que ocorre no Rio de Janeiro fatalmente se transmitirá em cadeia para os outros Estados da Federação. As questões de justiça criminal e ordem pública não fogem desta regra. Portanto, é estratégico manter a atenção, estudar o cenário, analisar as experiências e observar as políticas lá realizadas, ajudando no alcance dos objetivos. A solução desta guerra envolve leis duras e um Sistema de Justiça Criminal integrado, ágil, coativo e comprometido em garantir o direito da população à segurança pública.

sexta-feira, 21 de março de 2014

ALERTA, TENSÃO E RASTROS DE DESTRUIÇÃO


Comandante das UPPs afirma que todas as unidades estão em sistema de alerta máximo nesta sexta-feira. Após ataques, Complexo de Manguinhos tem clima tenso e rastros de destruição. Policiamento foi reforçado na região e nas áreas de UPPs do Parque Arará, em Benfica; e do Camarista Méier, no Lins de Vasconcelos, que também foram atacadas. Dois PMs feridos em ataques passam bem. Entre eles, um comandante de UPP, que foi baleado na virilha e operado

BRUNO AMORIM
O GLOBO
Atualizado:21/03/14 - 11h56

Destruição na praça onde ficava o contêiner da UPP de Manguinhos, que foi incendiado por bandidos Pablo Jacob / O Globo


RIO - O comandante das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), coronel Frederico Caldas disse, em entrevista à GloboNews, que todas as UPPs estão em sistema de alerta máximo, nesta sexta-feira. Segundo ele, a intervenção das forças federais nas comunidades do Rio que está sendo discutida em Brasília, será bem-vinda. Caldas afirmou que os ataques na noite de domingo, no Complexo de Manguinhos, e nas UPPs do Parque Arará, em Benfica; e do Camarista Méier, no Lins de Vasconcelos, foram ações orquestradas por bandidos.

Nesta sexta, o clima na Favela de Manguinhos é tenso já o acesso pela Avenida Leopoldo Bulhões. A região concentrou a maior parte de ações de bandidos que deixou dois policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) feridos, incluindo o comandante da UPP da região, o capitão Gabriel de Toledo, baleado na virilha. Moradores evitam falar, mas avisam que seria melhor que as equipes de reportagem fossem embora. Na localidade conhecida como Mandela I, onde fica a base da UPP Arará/Mandela, o cenário é de destruição: as ruas repletas de lixo queimado e fiação derretida pelo fogo deflagrado por coquetéis molotov durante ataque de bandidos.

Quem presenciou o ataque, que começou por volta das 18h desta quinta-feira, diz que a noite foi um “inferno”. Segundo moradores, uma menina quase morreu asfixiada no incêndio ateado pelos bandidos, mas foi socorrida por PMs. Dois cães acabaram morrendo. Dois carros da PM, além de alguns carros particulares, ficaram destruídos pelo fogo e foram retirados por policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) durante a madrugada após bombeiros controlarem as chamas. Dos sete contêineres da UPP, cinco foram destruídos pelas chamas e também retirados durante a madrugada.

— Ficamos sem luz e não conseguimos dormir. Me senti no Afeganistão. Foi uma noite de terror disse uma mulher que, por medo, não se identificou, moradora do local há 24 anos.

Outra moradora contou que dormia quando começou o ataque.

— Quando acordei o fogo já tomava as ruas. Quase morri porque a porta da minha casa não queria abrir. Uma vizinha me ajudou — disse Maria das Dores, de 62 anos.

Segundo a Polícia Militar, passa bem o comandante da UPP de Manguinhos, capitão Gabriel Toledo, que apoiava a ação na comunidade vizinha. Ele foi baleado na perna e levado para o Hospital Geral de Bonsucesso (HGB) e depois transferido para o Hospital Central da Polícia Militar (HCPM), onde permanece em observação. Não há previsão de alta hospitalar. Já o policial ferido na cabeça foi levado para o Hospital Getúlio Vargas (HGV), na Penha. Ele foi medicado e também passa bem.

O policiamento segue reforçado nesta sexta-feira nas regiões com unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) que foram atacadas por bandidos, principalmente no Complexo de Manguinhos.

Moradores da Favela de Manguinhos, adultos e crianças, aproveitaram a destruição causada pelos ataques para desmontar as partes de um poste que caiu após um incêndio. Com alicates e tesouras, eles retiram a fiação e separam pedaços de cobre e ferro com o objetivo de revender antes que garis da Comlurb façam a limpeza.

Ruas às escuras

O clima de pânico tomou conta da comunidade, porque várias ruas ficaram às escuras, depois que tiros atingiram transformadores da Light. A Avenida Leopoldo Bulhões ficou fechada por quase seis horas. Já a circulação de trens do ramal de Saracuruna foi paralisada por pouco pouco mais de duas horas.

O conflito teve início no fim da tarde desta quinta-feira, após PMs terem sido atacados por moradores que reagiram à remoção de um grupo que invadira um prédio. No fim da noite, houve ataques a tiros também contra as UPPs do Parque Arará (em Benfica), do Camarista Méier, onde um ônibus foi incendiado, e do Complexo do Alemão. O confronto no Alemão terminou com um suspeito ferido. Ninguém havia sido preso até as 0h30m.

As ações orquestradas pelo tráfico contra as UPPs se intensificaram em fevereiro deste ano, quando foi morta a soldado Alda Rafael Castilho, atingida por um tiro de fuzil em frente à unidade do Parque Proletário, na Penha. No mesmo mês, o soldado Wagner Vieira da Costa morreu em decorrência de um tiro no rosto, enquanto fazia patrulhamento na Vila Cruzeiro, também na Penha. No início de março, o soldado Rodrigo de Souza Paes Leme morreu após ser baleado no Chuveirinho, na Nova Brasília, Complexo do Alemão. Dias depois, o subcomandante da UPP da Vila Cruzeiro, o tenente Leidson Acácio Alves, de 27 anos, foi morto com um tiro na cabeça em confronto com criminosos. Na ocasião, traficantes fizeram quatro ataques simultâneos a PMs em pontos diferentes da região.

Os informes sobre ataques orquestrados estão sendo recebidos desde o início do mês passado pelos setores de inteligência da polícia do Rio. A última ação criminosa aconteceu nesta quinta-feira, quando quatro unidades de Polícia Pacificadora foram atacadas: Manguinhos, Parque Arará, Camarista Méier e Alemão. Criminosos ainda atiraram contra três PMs, inclusive o comandante da UPP de Manguinhos, o capitão Gabriel de Toledo. Desde 2012, somente em áreas pacificadas, 11 PMs já foram mortos.

Cabral vai pede apoio das forças federais

Depois de uma reunião com autoridades da cúpula de segurança do estado, o governador Sérgio Cabral disse, no início da madrugada desta sexta-feira, que marcou para as 11h uma reunião com a presidente Dilma Rousseff para discutir os recentes episódios de violência nas unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Rio. Cabral, o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e o secretário de Segurança José Mariano Beltrame vão a Brasília para propor um plano de segurança para o estado. O governador, no entanto, não quis dar detalhes do plano que será proposto, mas adiantou que vai solicitar o apoio das forças federais.


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