O Rio de Janeiro é o espelho do Brasil. O que ocorre no Rio de Janeiro fatalmente se transmitirá em cadeia para os outros Estados da Federação. As questões de justiça criminal e ordem pública não fogem desta regra. Portanto, é estratégico manter a atenção, estudar o cenário, analisar as experiências e observar as políticas lá realizadas, ajudando no alcance dos objetivos. A solução desta guerra envolve leis duras e um Sistema de Justiça Criminal integrado, ágil, coativo e comprometido em garantir o direito da população à segurança pública.

quarta-feira, 12 de março de 2014

UM PACTO PELA PAZ



Beltrame sempre sonhou com uma ocupação de cidadania realizada pelo Estado, com a indispensável ajuda das outras instâncias: saúde, educação, cultura, meio ambiente

ZUENIR VENTURA
O GLOBO
Publicado:12/03/14 - 0h00



O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse à repórter Vera Araújo que a reação do tráfico, executando policiais, é sinal de que a expansão das UPPs “está incomodando”. Será? Talvez seja mais do que isso, pois elas já incomodavam antes. O que está ocorrendo agora parece ser uma atrevida tentativa de inversão de papéis e volta ao passado: os traficantes, que até então se encontravam fora dos morros ou escondidos, passaram ao ataque, à ação ostensiva, colocando a polícia em posição defensiva. Diante disso, o secretário admitiu a possibilidade de reocupar o Complexo do Alemão, por exemplo, com apoio das Forças Armadas e da Polícia Federal. É verdade que quando isso aconteceu em 2010 houve aquela cena emblemática de centenas de bandidos fugindo como ratos. Mas e agora? Dos 15 soldados executados no Estado este ano, pelo menos três serviam ali. A experiência de seis anos da nova política de segurança demonstrou que invadir é tarefa mais fácil do que consolidar a conquista por meio da adesão da população, da convivência e da confiança mútua.

Beltrame nunca escondeu que a retomada do território aos bandidos era apenas o primeiro passo. Ele sempre sonhou com uma ocupação de cidadania realizada pelo Estado, com a indispensável ajuda das outras instâncias: saúde, educação, cultura, meio ambiente. “Polícia só não é solução”, repetiu várias vezes. Entre outras dificuldades, ele aponta a densidade demográfica e uma topografia que não permite acessos, a não ser por vielas e becos, onde, conforme diz, duas ou três pessoas armadas conseguem fazer frente a 20 policiais, pois conhecem bem as rotas de fuga. Ele reconhece que é tabu falar da necessidade de criar espaços, de remover favelas, “mas sem essa medida fica difícil patrulhar”, ele ousa afirmar. Por fim, convida os moradores das comunidades a analisar o antes e o depois da pacificação e escolher o que é melhor.

Essa escolha deveria ser feita também pela população em geral. A próxima campanha eleitoral é um bom momento para os candidatos se posicionarem sobre a questão. Algumas de nossas mais sensatas cabeças pensantes, analistas acima de partidos e ideologia, têm se manifestado pela preservação do projeto comandado por Beltrame. Admitem críticas, correções e aperfeiçoamentos, mas sabem que o fim dele só interessa aos bandidos, à banda podre da polícia e à não menos podre da política. Será interessante saber o que cada um que pretende ser governador tem a dizer. Aliás, para não haver dúvidas, por que não convocá-los a assumir logo de saída um compromisso público, uma espécie de pacto de defesa das UPPs e da paz no Rio?

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