O Rio de Janeiro é o espelho do Brasil. O que ocorre no Rio de Janeiro fatalmente se transmitirá em cadeia para os outros Estados da Federação. As questões de justiça criminal e ordem pública não fogem desta regra. Portanto, é estratégico manter a atenção, estudar o cenário, analisar as experiências e observar as políticas lá realizadas, ajudando no alcance dos objetivos. A solução desta guerra envolve leis duras e um Sistema de Justiça Criminal integrado, ágil, coativo e comprometido em garantir o direito da população à segurança pública.

sexta-feira, 28 de março de 2014

PRESÍDIO FEDERAL PARA CHEFE DO T'RÁFICO


Beltrame pedirá à PF que Menor P. seja levado para um presídio federal. Apontado como chefe do tráfico em 11 favelas da Maré, ele foi preso na noite desta quarta-feira em um condomínio na Zona Oeste

LEONARDO BARROS E GUSTAVO GOULART, COM PAOLLA SERRA E RAFAEL SOARES, DO EXTRA 
O GLOBO
Atualizado:27/03/14 - 5h05

Apontado como chefe do tráfico de 11 favelas do Complexo da Maré, Marcelo Santos das Dores, deixa a sede da Policia Federal na Praça Quinze Fernando Quevedo / Agência O Globo


RIO — O secretário de Segurança do estado, José Mariano Beltrame, informou que vai pedir à Polícia Federal que o traficante Marcelo Santos das Dores, o Menor P., preso na noite desta quarta-feira, seja levado para um presídio federal. Ele disse que vai conversar com o superintendente da PF do Rio de Janeiro, Roberto Cordeiro, para fazer o pedido. Em nota, o secretário afirmou ainda que "a ocupação de territórios – ou mesmo o anúncio da ocupação pelas Forças de Segurança, como é o caso do Complexo da Maré – fragiliza os traficantes e permite que a Polícia efetue prisões dentro e fora desses territórios".

Por volta de 2h30m desta quinta-feira, Menor P. foi levado, num comboio da Polícia Federal, para o Instituto Médico Legal para fazer o exame de corpo de delito. Em seguida, ele foi encaminhado para o Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, Zona Oeste. De acordo com o advogado do preso, Nilson Lopes, Menor P. foi levado para o presídio de Bangu 1. O advogado também comentou a possibilidade de uma transferência para um presídio federal.

— Esse pedido é político e não podemos fazer muita coisa para mudar isso. Mostramos a nossa oposição em relação a essa ida para outro estado, já que meu cliente quer ficar perto da sua família no Rio — disse Nilson Lopes, completando que não sabe quem é o dono do apartamento em que Menor P. foi preso.

— Ele está tranquilo e só vai falar em juízo. O encontrei algumas vezes em locais que não posso revelar. Não conhecia esse apartamento e nunca estive lá. Não posso passar detalhes sobre esse assunto — contou.

Prisão em Jacarepaguá

Apontado como o chefe do tráfico em 11 favelas da Maré, Menor P. foi encontrado num apartamento na Avenida Geremário Dantas, em Jacarepaguá, na Zona Oeste. Ele estava sozinho no imóvel quando foi surpreendido por 20 policiais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF. O condomínio foi construído recentemente e tem piscina, campo de futebol, churrasqueira e academia de ginástica. No início de abril, homens do Exército vão ocupar o complexo de favelas para a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), prevista para novembro.

Também conhecido como Astronauta, Menor P. dividiu o território dominado por sua facção em quatro áreas e nomeou, para administrá-las, bandidos de sua confiança, que fazem a segurança e cuidam da contabilidade das bocas de fumo. O traficante chama esse grupo de bandidos de “astros de sua constelação”, de acordo com um caderno apreendido por policiais da 21ª DP (Bonsucesso). Nesse caderno, o Menor P se identifica no alto da hierarquia do tráfico do Complexo da Maré.

O advogado Nilson Lopes disse, na noite desta quarta, que a imprensa está rotulando seu cliente negativamente.

— Ele é endeuzado. A imprensa quer rotular ele como ícone negativo para a sociedade. O que vai acontecer será a correção desse exagero — afirmou.


Sua quadrilha é formada por 200 homens, organizados segundo uma lógica militar. As sessões de treinamento dos “soldados” do Menor P., que foi paraquedista do Exército, são rígidas: quando algum de seus homens comete algum erro, como segurar um fuzil de forma errada, é obrigado a fazer flexões na frente da tropa. A polícia estima que a quadrilha movimenta R$ 2 milhões por semana com a venda de drogas.

Tráfico, tortura e até esquartejamentos

O traficante é investigado por crime de tráfico e tortura. Há relatos de esquartejamentos ordenados por ele dentro da favela e também da participação do bandido na execução, no ano passado, do engenheiro Gil Augusto Gomes Barbosa, de 53 anos, que entrou por engano no Complexo da Maré. Menor P era considerado foragido do sistema penitenciário. Ele foi beneficiado pelo regime semiaberto em 2007 e não voltou mais. Só na delegacia de Bonsucesso, ele é citado em cinco inquéritos diferentes.

Uma das investigações em andamento contra Menor P. envolve a morte de Wladimir Augusto da Paz, o Mimi, um ex-aliado do bandido que passou para uma facção rival. Acabou esquartejado e usado como exemplo. Segundo a polícia, Menor P. chefiava o tráfico nas localidades Baixa do Sapateiro, Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Conjunto Esperança, Conjunto Marcílio Dias, Conjunto Pinheiro, Nova Holanda, Nova Maré, Parque Maré, Parque Roquete Pinto, Parque Rubens Vaz, Parque União, Praia de Ramos, Salsa e Merengue, Timbau, Vila do João e Vila do Pinheiro. Somente as favelas Nova Holanda e Parque União são controladas por uma facção rival, enquanto a Praia de Ramos é dominada por milicianos.

De acordo com informações da polícia, numa operação do 22º BPM apreenderam numa das favelas sob seu controle o medicamento Tocilizumab, uma substância aprovada somente no Japão para o tratamento da Síndrome de Castleman — doença rara caracterizada pelo surgimento de nódulos linfáticos — e que é uma aposta da área médica para o tratamento e controle da artrite reumatóide. Os policiais foram até o local após informações do Disque-Denúncia, que oferecia R$ 2 mil por pistas dele.

Além das caixas de Tocilizumab — que seriam entregues no Centro de Radioterapia e Medicina Nuclear, no Centro de Juiz de Fora, em Minas Gerais —, havia dezenas de embalagens do tranquilizante Bromazepan, do antiinflamatório Reparil e deBramin — usado para alívio ou eliminação de náuseas e vômitos, inclusive da gravidez, em pré e pós-operatórios.

Menor P. também é acusado de ter agredido o jogador Bernardo, do Vasco, por um envolvimento do meia com Daiane Rodrigues, que seria "namorada número 1" do criminoso. A agressão aconteceu no ano passado.

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