O Rio de Janeiro é o espelho do Brasil. O que ocorre no Rio de Janeiro fatalmente se transmitirá em cadeia para os outros Estados da Federação. As questões de justiça criminal e ordem pública não fogem desta regra. Portanto, é estratégico manter a atenção, estudar o cenário, analisar as experiências e observar as políticas lá realizadas, ajudando no alcance dos objetivos. A solução desta guerra envolve leis duras e um Sistema de Justiça Criminal integrado, ágil, coativo e comprometido em garantir o direito da população à segurança pública.

sexta-feira, 21 de março de 2014

UPPS SÃO ATACADAS


Ataques a UPPs foram decididos em reunião de bandidos das favelas de Antares e Chapadão. Revoltados com a política de pacificação, criminosos se articulam desde a semana passada. Ordem teria partido de presídios federais e chegado a traficantes de maior expressão na facção que conseguiram benefícios da lei e não voltaram para os presídios


ANA CLÁUDIA COSTA 
O GLOBO
Atualizado:21/03/14 - 11h31


Policiais fazem ronda no entorno de Manguinhos após ataques de bandidos às bases das UPPs Marcelo Theobald / Agência O Globo


RIO - Uma reunião entre criminosos das favelas de Antares e Chapadão determinou os ataques às Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) ocorridos na noite desta quinta-feira. De acordo com informações de setores de Inteligência, criminosos revoltados com a expansão da política de pacificação vêm se articulando desde a semana passada para perpetrar ataques às UPPs. A ordem teria partido de presídios federais e chegado a traficantes de maior expressão na facção que conseguiram benefícios da lei e não voltaram para os presídios. Para atacar as UPPs, grupos - já articulados com outros comparsas - teriam saído da Zona Oeste em carros.

Na madrugada desta sexta-feira, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, confirmou que a ordem para os ataques às UPPs partiu de chefes de uma facção do tráfico que estão em um presídio. Ainda na quinta-feira, o governador Sérgio Cabral disse que as ações de ontem foram mais uma tentativa da marginalidade de enfraquecer a política vitoriosa da pacificação, que retomou territórios ocupados por bandidos.

Morro dos Macacos é um dos alvos

O Morro dos Macacos, em Vila Isabel, seria um das comunidades a serem invadidas, pois é considerado um local pequeno e estratégico para a facção. Informações do serviço de inteligência dão conta de que, na noite de quinta-feira, grupos de traficantes do Morro dos Macacos, temendo os ataques da facção rival, estavam armados com fuzis, perto do Túnel Noel Rosa, para revidar uma possível invasão.

Na noite desta quinta-feira, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) fizeram uma operação no Morro do Macacos apesar de não ter ocorrido ataque ao local. Um helicóptero da Polícia Civil sobrevoou a região para dar apoio aos PMs. Nesta sexta-feira, o policiamento segue reforçado no Morro dos Macacos e também em outras comunidades da Tijuca.

Na manhã desta sexta-feira, o comandante da Coordenadoria de Polícia Pacificadora, coronel Frederico Caldas, está reunido com os comandantes regionais de UPPs para traçar metas de reforço no patrulhamento. Segundo Caldas, foi determinado que, a príncipio, está suspensa a folga de policiais de UPPs até que os comandantes de unidades analisem que não há necessidade de manter dois grupos trabalhando no patrulhamento.

Caldas disse ainda que o reforço na UPP do Complexo do Alemão, anunciado na semana passada, foi mantido e o Bope continua na região.

Beltrame defende reformas

Após os ataques, Beltrame comentou os recentes ataques às UPPs que, segundo ele, são uma prova de que os problemas da segurança pública acabam beneficiando os criminosos.

— Desta forma, essas pessoas continuam pensando que o crime vale a pena. As pessoas agem sem o menor temor às leis — encerrou o secretário.

Beltrame também fez críticas a falta de debates para melhorar a questão da segurança pública no país. De acordo com ele, o sistema penal e prisional deve ser repensado e que algumas questões, como o aumento no uso de crack, a falta de controle das fronteiras, a maioridade penal e o uso de armas de fogo militares por parte de civis, contribuem com o crescimento da violência.

— Se não discutirmos isso tudo de forma ampla, vamos passar a vida inteira resolvendo crises e não resolvendo o problema de segurança pública. Isso é um problema que atinge todos os estados, não é só do Rio de Janeiro — disse o secretário.

Ações orquestradas desde fevereiro

As ações orquestradas pelo tráfico contra as UPPs se intensificaram em fevereiro deste ano, quando foi morta a soldado Alda Rafael Castilho, atingida por um tiro de fuzil em frente à unidade do Parque Proletário, na Penha.

No mesmo mês, o soldado Wagner Vieira da Costa morreu em decorrência de um tiro no rosto, enquanto fazia patrulhamento na Vila Cruzeiro, também na Penha. No início de março, o soldado Rodrigo de Souza Paes Leme morreu após ser baleado no Chuveirinho, na Nova Brasília, Complexo do Alemão. Dias depois, o subcomandante da UPP da Vila Cruzeiro, o tenente Leidson Acácio Alves, de 27 anos, foi morto com um tiro na cabeça em confronto com criminosos. Na ocasião, traficantes fizeram quatro ataques simultâneos a PMs em pontos diferentes da região.

Os informes sobre ataques orquestrados estão sendo recebidos desde o início do mês passado pelos setores de inteligência da polícia do Rio. Desde 2012, somente em áreas de UPP, 11 PMs já foram mortos.

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