O Rio de Janeiro é o espelho do Brasil. O que ocorre no Rio de Janeiro fatalmente se transmitirá em cadeia para os outros Estados da Federação. As questões de justiça criminal e ordem pública não fogem desta regra. Portanto, é estratégico manter a atenção, estudar o cenário, analisar as experiências e observar as políticas lá realizadas, ajudando no alcance dos objetivos. A solução desta guerra envolve leis duras e um Sistema de Justiça Criminal integrado, ágil, coativo e comprometido em garantir o direito da população à segurança pública.

domingo, 30 de março de 2014

COMPLEXO DA MARÉ É OCUPADA


Complexo da Maré é ocupado em 15 minutos para a instalação de UPP. Bandeira do Brasil é hasteada na praça que fica entre as comunidades do Timbau e da Vila dos Pinheiros. Operação iniciada na madrugada deste domingo foi realizada sem disparo de tiros. Secretaria de Segurança pede a colaboração de moradores com denúncia sobre criminosos, armas e drogas

O GLOBO 
Atualizado:30/03/14 - 10h53

Policial mostra a bandeira do Brasil para o pequeno morador do Complexo da MaréPablo Jacob / Agência O Globo


RIO - Em uma cerimônia marcada pela paz, na presença de muitas crianças, a bandeira do Brasil foi hasteada no Complexo da Maré, por volta das 9h40m, na praça que fica entre as comunidades do Timbau e da Vila dos Pinheiros. No local será montada a base provisória do Batalhão do Choque. Durante coletiva no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), o governador Sérgio Cabral falou sobre a retomada das favelas, ocorrida em 15 minutos e sem o disparo de tiros. Para ele, este é um dia histórico:

— A Maré é quase uma cidade, se pensarmos que 80% dos municípios brasileiros não têm a quantidade de pessoas que existe lá. Nos últimos 40 anos, aquelas favelas estavam desamparadas pelo poder público e cresciam, cada vez mais, no entorno da Avenida Brasil, das linhas Amarela e Vermelha, do Galeão, do Fundão e com a Fiocruz bem ali em frente. Não podíamos mais tolerar esse domínio do poder paralelo. Hoje foi um dia histórico.

As forças de segurança do Rio ocuparam o Complexo da Maré, no fim da madrugada deste domingo. As favelas da região foram recuperadas pelo Comando de Operações Especiais da Polícia Milita e não houve resistência. Os agentes permanecem nas comunidades, nesta manhã, em operações de buscas de criminosos e apreensões de armas, drogas e objetos roubados.

Na Vila dos Pinheiros, na Maré, poucas pessoas andavam pelas ruas, no início da manhã. Policiais do Batalhão de Choque revistam carros no interior da favela, mas o clima é de aparente tranquilidade no local. Na Nova Holanda, os moradores acompanharam das janelas e das portas de casa a chegada dos veículos blindados da Marinha. Na Rua Teixeira Ribeiro, um dos principais acessos da Nova Holanda, alguns feirantes montam normalmente suas barracas de frutas.

— Temos que trabalhar. Acho que o movimento será pequeno, mas está tudo calmo — disse um feirante, que não quis se identificar.

Um outro morador, que também não quis se identificar, contou que muitos bandidos já deixaram as favelas do Complexo da Maré, desde a sexta-feira da semana passada. Além dos veículos blindados, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) também circulam a pé pelas ruas da favela, alguns acompanhados de cães. A ocupação também é acompanhada por jornalistas da imprensa internacional.

— Desde que foi falado que a polícia ia ocupar a favela ficou mais tranquila. Estou confiante que as coisas vão ficar melhor ainda — disse um outro morador.

Já a dona de uma barraca de comidas, que também não se identificou, lamentou o fim do baile funk na Nova Holanda:

— Em dias de baile, eu fazia 22 panelas de comida. Ontem, eu fiz 16 e ainda não consegui vender tudo.

Na Vila dos Pinheiros, homens da cavalaria da PM fazem uma montaria levando uma bandeira do estado. Eles circulam pela comunidade, num momento simbólico da ocupação. Ao todo, a PM atua com 1.180 homens no complexo de favelas da Zona Norte. Pelo menos cinco pessoas já foram presas, incluindo policiais militares do Rio, e drogas e armas apreendidas, durante operação da Polícia Federal para desarticular, na manhã desta domingo, a quadrilha de Marcelo Santos das Dores, o Menor P., chefe do tráfico de 11 favelas no Complexo da Maré. O bandido foi preso também pela PF na última quarta-feira em Jacarepaguá. Estão sendo cumpridos 15 mandados de prisão e de busca e apreensão na Região Metropolitana do Rio. A operação é parte do processo de pacificação da Maré, ocupada hoje em ação conjunta das forças de segurança federal e estadual.

A Secretaria de Segurança solicita a colaboração dos moradores das comunidades que formam o Complexo da Maré, com denúncia sobre criminosos, esconderijos e locais onde possam estar guardadas armas, drogas, objetos roubados e outros produtos ilegais. Os moradores podem ligar para o Disque-Denúncia (2253-1177) ou para o 190 da PM.

Além disso, todos os moradores devem andar com documentos de identificação e os motoristas e motociclistas serão solicitados a mostrar documentos de propriedade de seus veículos, bem como a Carteira Nacional de Habilitação em dia. No caso das motos, também será exigido o uso de capacete.

A Força de Fuzileiros da Esquadra da Marinha participa da Operação na Maré com 250 homens, prestando apoio logístico de transporte para os batalhões de Operações Especiais e de Choque. Os militares, que entraram nas comunidades a bordo de 21 veículos blindados, têm experiência em Missões de Paz no Haiti e em outras operações de apoio à Secretaria de Segurança, como no complexos da Vila Cruzeiro e do Alemão, e nos morros São Carlos, da Mineira, Mangueira, Rocinha, Vidigal, Chácara do Céu, Chatuba, Manguinhos e Jacarezinho, comunidades da Barreira do Vasco e do Caju, além do Complexo do Lins.

Na operação deste domingo são utilizados cinco carros blindados sobre Lagartas M-113, seis carros Lagarta Anfíbio (CLAnf) e dez blindados sobre rodas para garantir a mobilidade das forças policiais em todas as comunidades do Complexo da Maré.

Cabral sobre a ocupação da Maré: 'Hoje foi, sem dúvida, um dia histórico'. Governador destaca, ainda, que a colaboração da presidente Dilma foi essencial para o sucesso da ação

ADALBERTO NETO
O GLOBO
Atualizado:30/03/14 - 10h52

Sérgio Cabral participa de reunião após ocupação da Maré Divulgação


RIO - Após a retomada do Complexo da Maré, o governador Sérgio Cabral falou, na manhã deste domingo, sobre a entrada das forças de segurança nas favelas da região, ocorrida em 15 minutos e sem o disparo de tiros. Para eles, este é um dia histórico:

- Nos últimos 40 anos, aquelas favelas estavam desamparadas pelo poder público e cresciam, cada vez mais, no entorno da Avenida Brasil, das linhas Amarela e Vermelha, do Galeão, do Fundão e com a Fiocruz bem ali em frente. Não podíamos mais tolerar esse domínio do poder paralelo. Hoje foi, sem dúvida, um dia histórico - declara Sérgio Cabral.

O governador destacou, ainda, que a ocupação da Maré já estava prevista, porém, foi antecipada por conta dos últimos acontecimentos:

- Nos últimos três meses o poder paralelo vem tentando nos intimidar e, assim, provocar o enfraquecimento da nossa política de pacificação vitoriosa. Por isso, na madrugada de quinta para sexta da semana passada, foi pensado um plano de ação de combate - afirma Cabral.

Cabral também agradeceu a colaboração da presidente Dilma Rousseff e o desempenho das polícias Militar, Civil, Federal e Rodoviária Federal, do Exército, Marinha, Aeronáutica, Corpo de Bombeiros e da Prefeitura do Rio.

- O trabalho em conjunto de todos os órgãos foi essencial. E a presidente Dilma foi primordial para todo este processo acontecer, já que ela atendeu aos meus pedidos prontamente. Solicitei uma reunião emergencial na sexta da semana passada, e na segunda já estávamos bolando o nosso plano de ocupação - explica.

O governador também destacou a dimensão do complexo, que tem cerca de 120 mil habitantes.

- A Maré é quase uma cidade, se pensarmos que 80% dos municípios brasileiros não têm a quantidade de moradores que existe lá. E todos eles estavam privados dos serviços públicos mais básicos, como os Correios, Comlurb, Corpo de Bombeiros e Rioluz, antes impedidos pela ocupação do tráfico.

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