O Rio de Janeiro é o espelho do Brasil. O que ocorre no Rio de Janeiro fatalmente se transmitirá em cadeia para os outros Estados da Federação. As questões de justiça criminal e ordem pública não fogem desta regra. Portanto, é estratégico manter a atenção, estudar o cenário, analisar as experiências e observar as políticas lá realizadas, ajudando no alcance dos objetivos. A solução desta guerra envolve leis duras e um Sistema de Justiça Criminal integrado, ágil, coativo e comprometido em garantir o direito da população à segurança pública.

quinta-feira, 13 de março de 2014

VILA KENNEDY OCUPADA SEM CONFRONTO EM 20 MINUTOS


Polícia ocupa a Vila Kennedy para instalação da 38ª UPP. Força de segurança tomou a comunidade em cerca de 20 minutos. Dezessete escolas da região ficarão fechadas nesta quinta-feira

ANA CLÁUDIA COSTA
LEONARDO BARROS
SERGIO RAMALHO
O GLOBO
Atualizado:13/03/14 - 9h36


Policiais militares iniciam ocupação da Vila Kennedy Fernando Quevedo / Agência O Globo


RIO — Em apenas 20 minutos, policiais do comando de operações especiais da PM ocuparam as comunidades da Vila Kennedy e Metral, onde será instalada a 38ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), em Bangu, na Zona Oeste da cidade. A ação das polícias Militar e Civil começou por volta das 5h desta quinta-feira. Até as 8h, três homens haviam sido presos na região. Dois deles possuíam mandado de prisão. O outro estava com uma moto roubada em casa. Na Favela do Metral, policiais apreenderam duas motocicletas e um carro roubado. Cerca de dez carros do Batalhão de Operações Especiais (Bope) estão na comunidade.

Mais cedo, na chegada da polícia à região, as pistas da Avenida Brasil chegaram a ficar fechadas por cerca de 20 minutos, como medida de segurança. Ainda não há registro de confrontos.

Morador da Vila Kennedy há 48 anos, o aposentado Gelson Machado, de 75 anos, disse que vê com alívio a chegada da polícia à comunidade. Ele contou que os tiroteios na região eram diários e, algumas vezes, duravam até mais de 40 minutos.

O local onde foi implantada a base de operações do Bope, conhecido como Campo Leão 13, servia de rota de fuga de bandidos, que circulavam na região fortemente armados. Nas ruas que dão acesso ao campo, há vestígios de barricadas montadas por traficantes. No entorno, as paredes de quase todas casas estão com pichações.

Entre 300 e 400 policiais do Bope e do Batalhão de Choque participam da operação. Eles contam com o apoio do Grupamento Aéreo Marítimo (GAM), do Batalhão de Ação com Cães (BAC), do Batalhão de Policiamento de Vias Especiais (BPVE) e do 14º BPM (Bangu).

Policiais do Bope montaram uma base operacional próximo a um campo de futebol na Vila Kennedy. A base de comando e controle do Bope recebe imagens em tempo real feitas pelo helicóptero blindado da PM.

Simultaneamente à ocupação da Vila Kennedy, policiais do Bope fizeram uma rápida operação na favela Vila Aliança, em Senador Camará, na Zona Oeste. As equipes foram ao local após receberem informações de policiais que estavam no helicóptero da PM. Segundo os agentes, havia uma movimentação de traficantes da região.

Ao chegar à comunidade, os policiais localizaram um grupo de criminosos e foram recebidos a tiros. Após o primeiro confronto, três traficantes fugiram, entraram em uma casa e chegaram a fazer um morador de refém. Policiais do Bope cercaram o local e conseguiram prender os três homens. Um carro, uma pistola, um fuzil AR-15 e munição foram apreendidos.

Retirada de barricadas na Vila Kennedy

Retroescavadeiras do Bope retiram barricadas construídas por traficantes na favela para evitar o acesso da polícia. Helicópteros da PM sobrevoam as comunidades da Vila Kennedy e Metral, enquanto policiais fazem uma varredura pelas ruas da favela. Policiais do Batalhão de Ação com Cães (BAC) também fazem uma varredura em becos e vielas com cães farejadores em busca de drogas e armas.

Uma base móvel do Instituto Félix Pacheco (IFP), com tecnologia de leitura de digital biométrica para identificação de suspeitos, está montada no pátio do BPVE, na Rua Tunis s/nº. Equipes de policiais civis do Esquadrão Antibomba e de peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) estão na 34ª DP (Bangu), unidade responsável por registrar as ocorrências durante a ocupação. Por causa da ação, 17 escolas das redes estadual e municipal da região ficarão fechadas nesta quinta-feira.

Antes do início da operação, o tráfico atuava livremente na quarta-feira. Em mais uma reação do tráfico ao processo de pacificação, bandidos da Vila Kennedy montaram barreiras nas ruas — inclusive incendiando lixo e pedaços de madeira, entre outros materiais — para impedir o acesso de veículos da PM à comunidade.

De manhã e no início de tarde, jovens podiam ser vistos fumando maconha, sobretudo num trecho ao lado de um campo de futebol, junto a uma escola, na Avenida Central. A toda hora, rapazes em motos passavam intimidando moradores e jornalistas.

Havia pelo menos oito barricadas, feitas, entre outros itens, de blocos de concreto, pneus e até um sofá. As barreiras estavam na entrada da Vila Kennedy e em acessos a bocas de fumo. Os "gerentes' do tráfico já teriam deixado a comunidade. Segundo um comerciante, que também pediu para não ser identificado, desde o fim de semana bandidos estão impondo toque de recolher.

De acordo com um levantamento da Gerência de Estudos Habitacionais do Instituto Pereira Passos (IPP), com base no Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a Vila Kennedy e Favela da Metral somam uma população de 33.751 pessoas e 10.294 domicílios. No bairro de Bangu, a população é estimada oficialmente em 428 mil habitantes. Todos estes cidadãos são beneficiados imediatamente com a ocupação. Cercada de vias importantes, a retomada desses territórios, além de devolver a paz aos moradores e visitantes, trará ainda uma diminuição gradual no número de roubos a transeunte e de veículos.

Criminosos organizaram fuga

Na tarde de terça-feira, criminosos se reuniram em seu quartel-general, na Rua Congo, para organizar a fuga do lugar. Eles usaram motos para deixar a Vila Kennedy e, para facilitar a escapada, atiraram contra transformadores, deixando a região às escuras.

Durante a madrugada de quarta, traficantes em motocicletas circularam armados pelas ruas da comunidade e deram tiros para o alto. Eles intimidaram comerciantes e moradores, fazendo ameaças àqueles que apoiarem a pacificação. Pela manhã, operários trabalhavam para consertar os transformadores e restabelecer o fornecimento de energia elétrica. Uma das equipes recebeu ameaças, supostamente de traficantes.

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