Alemão: bandidos fazem disparos contra policiais militares de UPP. Sete homens atacaram base na localidade da Pedra do Sapo. Clima na comunidade é de tensão pela segunda noite seguida. Polícia apura se tráfico orquestrou a manifestação desta terça
RAFAEL NASCIMENTO
ANA CLAUDIA COSTA
O GLOBO
Atualizado:12/03/14 - 23h17
Policiais reforçavam a segurança na esquina da Estrada do Itararé na manhã desta quarta-feira Gabriel de Paiva / Agência O Globo
RIO — Um dia após um protesto no qual um caminhão-tanque foi usado para fechar a Estrada do Itararé, voltou a haver troca de tiros entre traficantes e policiais de uma UPP no Complexo do Alemão. Segundo a assessoria da UPP, sete homens dispararam contra policiais que estavam no contêiner da unidade da Pedra do Sapo na noite desta quarta-feira, mas ninguém ficou ferido. Os PMs revidaram, e o patrulhamento na área foi reforçado. Nenhum tiro teria atingido a sede da unidade. Os bandidos conseguiram escapar.
Antes do ataque, o serviço de inteligência da Polícia Civil tinha enviado um alerta à PM, avisando que um caminhão com armas, escoltado por um carro vermelho, chegara à região. Ainda segundo o aviso, as armas seriam distribuídas a bandidos para que atacassem a UPP.
Nesta quarta-feira, moradores evitaram falar sobre o protesto da véspera. Eles questionavam a prisão de dois suspeitos de ataques a UPPs da região. Segundo o comandante da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), coronel Frederico Caldas, há informações de que os manifestantes foram ameaçados por traficantes e obrigados a interditar a estrada. Caldas prometeu reforçar o policiamento no Alemão.
Policiais das UPPs da região, que não quiseram se identificar, admitiram que a situação é problemática. Eles contaram que têm sido hostilizados por moradores, com pedradas e xingamentos.
— A situação aqui é tensa. Ninguém fala conosco, e os traficantes, em sua maioria menores, inibem moradores com ameaças. Todos têm medo. Eles nos xingam e jogam pedras — disse um PM.
Nesta quarta-feira, policiais montaram barreiras nos principais acessos ao complexo. Moradores foram revistados. Cerca de cem policiais civis da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) apreenderam 50 motocicletas em situação irregular. Um motociclista procurado por roubo e atentado violento ao pudor foi preso. No Parque Proletário, na Penha, policiais da UPP apreenderam outras 21 motos. Segundo o delegado titular da DRFA, Marcus Vinícius Braga, pode ser que nem todas as motos sejam roubadas, pois muitas vezes os bandidos retiram as placas delas para praticar roubos.
O titular da 45ª DP (Alemão), Felipe Curi, garantiu que há provas contundentes contra os dois homens presos na última segunda-feira, ao contrário do que era defendido pelos manifestantes. Segundo o delegado, Klayton da Rocha Afonso tinha participação ativa no tráfico e organizou os ataques à 45ª DP e a uma sede da UPP, exigindo que moradores saíssem das ruas durante os disparos. O acusado, afirmou Curi, ainda teria comemorado a morte do soldado Rodrigo Paes Leme. Já Hallam Marcílio Gonçalves seria “olheiro” do tráfico.
Nesta quarta-feira, a Divisão de Homicídios divulgou fotografias de dois suspeitos de participar da morte da PM Alda Rafael Castilho, em fevereiro. A Justiça decretou a prisão temporária de Ramires Roberto da Silva e Marcelo Pereira da Silva Júnior.
Especialista: criminosos tentam sabotar programa
O coronel da reserva da PM Milton Corrêa da Costa não tem dúvida de que o tráfico está tentando sabotar o programa das UPPs. E propõe que o Exército volte ao Alemão por um ano.
— Todo o efetivo da Polícia Militar ali existente seria deslocado, então, para o Complexo da Maré, outro ponto estratégico para o narcotráfico. Estaria sendo dado um duro recado ao narcoterrorismo no Rio, neste momento de reafirmação do processo de pacificação em áreas ainda conturbadas.
O antropólogo Lenin Pires, professor da UFF, por sua vez, não crê que as ações de bandidos sejam orquestradas para desestabilizar o estado:
— Isso seria atribuir uma racionalidade que os bandidos não têm. Eles estão tentando defender o negócio, e as ações contundentes podem ser causadas por diversos fatores. Pode ser vingança porque a polícia matou alguém do grupo, pode ser porque um acordo com maus policiais não deu certo, pode ser uma ação para prejudicar rivais e enfraquecê-los.
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